ESPAÇO CÉNICO IMERSIVO E A CARROÇA-ANIMAL

O espaço cénico é a carroça e toda a envolvente do palco e da plateia. Estas passagens que se estendem sobre o palco e a sala, foram estabelecidas com o propósito de quebrar fronteiras. Procurou-se o desenvolvimento de lógicas imersivas que contrastassem com uma extensão e individuação dos limites do espaço teatral. Há um movimento duplo neste labor conceptual: abrir o espaço para lá do habitual ao todo da sala e providenciar fenómenos e estímulos perceptivos que questionam a visão única e igualitária para todos os espectadores. Considerou-se e assumiu-se que o cada um vê é único e dependente do seu estado anímico, da sua curiosidade, do seu conjunto de interesses e afinidades pessoais. A ideia de conceber um espectáculo que não tem centro nem visão única é uma decisão artística que temos perseguido por diversas vezes e à qual regressamos de novo. O que cada espectador vê está dependente do lugar onde se senta e do percurso imaginário que decidir empreender em cada instante do espectáculo. Assim montámos um dispositivo cénico de fragmentação das imagens que é constituído por dezenas de ecrãs de video | entre 50 a 70 que se encontram montados sobre a plateia e o palco. Todas as imagens serão captadas e produzidas em tempo real e durante o espectáculo.

A estrutura da carroça, que levámos tempo a resistir-lhe e que acabou por se tornar o foco do trabalho dramatúrgico estendeu-se enquanto elemento cénico até ao espaço da plateia. Concebeu-se um duplo elemento que se fragmentou e se separou pensado como um destroço. A tentação é envolver os espectadores e aproximar deles a performance de modo a fazer a sua imaginação física envolver-se no espectáculo. A ideia da carroça é um regresso à construção de máquinas de cena que desenvolvi nalguns dos meus primeiros trabalhos.