A COMUNIDADE CRIATIVA

O trabalho criativo para esta obra tem como estrutura de base uma equipa de criativos e técnicos com os quais tenho vindo a desenvolver parcerias há vários anos, incluindo nos dois últimos trabalhos colaboradores ingleses. Há nesta continuidade um sentimento de comunidade, de pertença, de afinidade, de diferenciação e pluralidade que ultrapassa os meros convencionalismos e formalidades. Creio que nisso há também algo de brechtiano: no trabalho continuado de escrita, de criação de modelos estéticos e formais, de estímulos artísticos e de partilha de visões pessoais e mundos privados.

A chegada a Torres Vedras em final de 2008 tornou-se um ponto de partida para uma parceria muito especial com a cidade e com alguns dos seus habitantes, entre eles o Rui Gato, que tem sido um colaborador e amigo com o qual tenho desenvolvido uma linha conceptual, artística e tecnológica de grande profundidade e inovação. O Miguel Moreira é um amigo desde os tempos do OLHO em Almada com o qual tenho repetidamente aprofundado questões axiais para os domínios da performance e da criação na viragem do novo século. A Teresa Fradique, antropóloga, é outra colaboradora com quem tenho vindo a aprofundar as problemáticas de investigação que o teatro contemporâneo nos coloca. O Luís Bombico, o pequeno mago das grandes soluções técnicas e das inovações de mercado tecnológicas. O Mantos é o colaborador sombra, o perfeccionista dos trabalhos cenográficos e dos conteúdos informáticos, cada vez mais extensos, que vão alastrando o que o mundo vai conhecendo e dizendo de nós. A ele juntou-se agora um novo colaborador, o Paulo Carocinho cuja generosidade e engenho têm para nos dar e fazer desenvolver. O André Sier cujo trabalho artístico aprecio, tem-nos possibilitado, com o seu génio de programador, aceder a possibilidades de concepção inesperadas e surpreendentes. O Steve Denton e o Johnatan Street são duas aquisições e participações recentes, fruto de um anterior trabalho em Wales, que vieram dar uma singularidade própria à imagem dos figurinos, o primeiro, e à realização vídeo, o segundo. A Filipa Sampaio, com quem partilhei muitas conversas sobre teatro ao longo dos anos, veio agora juntar-se como gestora dos meus projectos artísticos, trazendo um saber e uma maneira de fazer própria que se tem revelado muito profícua. A Sara Ribeiro, que tem acompanhado de muito próximo todas as minhas últimas criações é a mais fiel depositária da memória destes tempos de procura incessante de pesquisa acerca da direcção e formação de actores que tenho realizado. Por último, os outros três actores que convidei para esta peça: Custodia Gallego, Paula Diogo e Tonan Quito - com os quais nunca tinha trabalhado antes mas cujos percursos artísticos tenho acompanhado - têm-me permitido estender e aprofundar algumas ideias e conceitos que tenho vindo a desenvolver num permanente diálogo e disponibilidade aventureira. A todos estes colaboradores e aos que, de modo mais pontual, colaboraram comigo, quero agradecer as possibilidades infinitas e paciência sábia que têm tido ao longo destes últimos anos de convivência e labor.

O meu trabalho desenvolve-se em séries e por impulsos responsáveis por trazerem uma constância de meios e linguagens que são reconhecíveis por quem nos tem acompanhado. E este conjunto de colaboradores tem permitido desenvolver uma conceptualização artística e técnica, um trabalho conjunto e continuado que se expande por várias obras e que conta com um investimento e profundidade que é mais do que apenas uma simples repetição de gestos e desejos. Um colectivo que é fundamentalmente artístico e profissional, mas que também se baseia na amizade e na admiração mútua, na ambição de crescimento individual e na partilha de uma poesia do existir.